É o grande problema interior, aquele de cada um e de todos. É o problema da alma, que descobre em si mesma um abismo de trevas e de luz, que se contempla com uma mistura de encantamento e de pavor e se diz: "Eu não sou deste mundo, pois ele não é suficiente para me explicar".
Os grandes Iniciados- Édouard Schuré

30 de mar. de 2012

Desconhecido...

30/03/2012
3+3+5=
11




"Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou. Tudo o que nele repousa aspira a tornar-se acontecimento, e a personalidade, por seu lado, quer evoluir a partir de suas condições inconscientes e experimentar-se como totalidade."
Carl Jung


Se atendermos ao chamado para estarmos presentes em nossa vida interna e em nossa vida manifestada poderemos transcender o que está estabelecido...
Ao nos conhecer poderemos saber onde estamos e para aonde estamos indo... Contudo, este conhecimento se dá por um todo, nem sempre pode ser colocado em palavras... mais do que conhecer é estar consciente da amplitude e do desconhecido que nos cerca e ir ampliando nossos horizontes pouco a pouco... Talvez esta seja a sabedoria... 
Hoje abro espaço para que a sabedoria exista em minha vida... 
Sem me prender ao conhecido por medo de saltar no desconhecido!!!


Achei bem interessante o artigo de Rogério Malaquias falando a respeito do desconhecido. Transcrevo uma parte nesta postagem e ele pode ser encontrado na integra aqui!!!


"A palavra "Inconsciente", tanto e tão descuidadamente usada, banalizou-se a tal ponto que leva a crer que quem a usa sabe perfeitamente do que está falando. O Inconsciente, então, parece ter se tornado conhecido, parece que sabemos o que é, onde está, o que tem dentro, como se divide e subdivide... ledo engano.
Carl Gustav Jung não cansou de chamar a atenção para o importantíssimo fato de o Inconsciente ser precisamente Inconsciente, isto é, Desconhecido. Chega a causar surpresa que algo tão óbvio merecesse um tal cuidado.
Mas há uma explicação: é que as "coisas", quando são batizadas com um nome qualquer, só por causa disso, imediatamente parecem tornar-se conhecidas. Mesmo que aquele nome pretenda referir-se ao Desconhecido.
Nascemos todos com uma grande ânsia de conhecer, situarmo-nos no mundo, estabelecer pontos de referência, cercar um território, e quando julgarmos conhecer o bastante para que nossa ânsia se acalme, quando acreditamos poder descansar, dormir em paz, então começamos a temer que o nosso precioso conhecimento desapareça num repente.
Passamos a ansiar por não-conhecer! O Novo pode roubar-nos alguma coisa antiga, alguma certeza fundamental. Antes só tínhamos a ganhar, agora temos o que perder. E apesar de quase sufocados, viciados, presos à velhas tramas do passado (teias que uma vez tecemos e agora nos capturam), apesar mesmo dos sonhos de renovação que ainda persistem e estimulam o caminhar, tornamo-nos hostis ao Desconhecido.
Mantemo-Lo à distância para que não venha e nos assuste, ou transforme. Queremos que Ele retorne ao Caos, de onde saiu. Quando não podemos ignorá-Lo, fingir que não O vimos, lançamos mão de nossos carimbos apressadamente e, aliviados, acreditamos te-Lo paralisado dentro de alguma palavra altissoante. Em seguida só nos restará a infinita e triste tarefa de colecionador de nomes.
Se desejamos avançar sobre o Desconhecido, conhecendo-O mais e mais, então precisamos saber que nos tornamos sujeitos à muitas e incríveis armadilhas, e a primeira delas é esta: a ilusão de que já conhecemos o Desconhecido, só porque arranjamos para Ele uma nova palavra, ou algum novo conceito da moda.
Vivemos numa espécie de ilha, ou bolha, de luz entretidos com as mil coisas do dia-a-dia. Conhecemos muitas coisas, temos muitos amigos, objetos, claros desejos. Sabemos o caminho de casa, o nome das ruas, já viajamos por tantos lugares, aprendemos palavras, teorias, comportamentos, artimanhas de toda a espécie. Dominamos uma língua, moramos num país, desenvolvemos critérios para julgar as pessoas.
Podemos, talvez, viver uma vida inteira só às voltas com o conhecido sem ligar muita atenção às nossas dúvidas mais íntimas, e às contradições e ambiguidades do que fazemos. Podemos não dar importância aos nossos sonhos e delírios, podemos acender todas as lâmpadas e tentar ignorar a noite, as trevas e o vazio.
Podemos jamais perceber que esta zona de luz está cercada por um abismo infinito, estranho e desconhecido.
Não estamos apenas cercados, mas penetrados. E ainda muito mais do que apenas penetrados, estamos quase completamente à mercê do que não sabemos.
Se paramos um pouco e lançamos em torno uma mirada honesta, podemos não reconhecer o que nos parecia óbvio, podemos nos sentir traídos. Ficaríamos admirados com nossa capacidade de nos iludir, levaríamos um susto ao ver trevas onde parecia haver luz.
Cada coisa que imaginamos conhecer carrega consigo o seu quinhão de sombras, seu mistério, seu infinito. O Desconhecido está em toda em toda parte: bem diante de nós, atrás, à esquerda e à direita. Está abaixo e acima de todos e cada um de nós. O Desconhecido está dentro e fora de nós. Entre nós. E se houver um Centro de tudo o que existe, Ele estará lá e será Ele o Centro.
Estas considerações nos remetem diretamente às questões da Psicologia Analítica, elaboradas por Jung e seus discípulos. Poderemos, talvez, compreender como a consciente convivência com o Desconhecido pode abrir novas e importantes perspectivas para o Ego, desde as origens apavorado ante o abismo de si mesmo.
Caminhando juntos por essa região intermediária, verdadeira terra-de-ninguém, entre o Eu e o Outro, entre o Ser e o Não-Ser, o Alto e o Baixo, o Espírito e a Matéria, a Vida e a Morte, entre a Sabedoria e a Loucura, vamos acostumando os nossos olhos à uma meia-luz, à uma meia verdade, aos povos da fronteira. Vamos aprendendo pouco a pouco o dialeto e esquisito diálogo com os personagens do sonho e dos mitos, a intimidade com as metáforas poéticas.
Acompanhando com cuidado, para não perde-lo, o profundo sentido da palavra "Inconsciente" que significa tão simplesmente "O Desconhecido", abordemos os conceitos básicos da Psicologia Junguiana. As noções de Símbolo, Arquétipo e Complexo, a Dissociação Psíquica e o Processo de Integração da Personalidade.
O Desconhecido é o fascinante e assombroso, é completamente presente, real e próximo. É o que nos faz dormir e acordar, apagar e acender, o que nos traz prazer e dor, amor e ódio. Pode nos parecer terrível e apavorante como um dragão, a ponto de não nos animarmos a olhar em volta e ve-Lo nas faces, mas é em sua direção que devemos olhar se buscamos o sentido do Sagrado, um sentido para a Vida."


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