É o grande problema interior, aquele de cada um e de todos. É o problema da alma, que descobre em si mesma um abismo de trevas e de luz, que se contempla com uma mistura de encantamento e de pavor e se diz: "Eu não sou deste mundo, pois ele não é suficiente para me explicar".
Os grandes Iniciados- Édouard Schuré

17 de out. de 2010

Bem aventurança




17/10/2010
8+1+3=12
3


3 é o número da comunicação e da alegria de viver. Campbell chama esta alegria de viver de bem aventurança. Temos seguido nossa bem aventurança? Ou desistimos frente aos primeiros obstáculos. É bom lembrar que existem sacrifícios pelo caminho para que possamos alcançar o sacro-ofício (12). Digo isso porque o três de hoje veio do 12, 1+2=3. Então nos coloquemos na trilha de nossa bem aventurança e confiemos nas mãos invisíveis que  virão em nosso auxílio... Não se esqueça, é para todos nós...



MOYERS: De que modo poderíamos estabelecer contato com esse manancial da vida eterna, essa bem aventurança que está exatamente aí?

CAMPBELL: Estamos vivendo, o tempo todo, experiências que podem, ocasionalmente, conduzir a isso, uma breve intuição de onde está nossa bem aventurança. Agarre-a. Ninguém pode dizer lhe o que será. Você precisa aprender a reconhecer a sua própria profundidade.

MOYERS: Quando você reconheceu a sua?

CAMPBELL: Ah, quando era criança. Nunca deixei ninguém me desviar do curso. Minha família sempre me ajudou, o tempo todo, a realizar apenas o que eu mais profundamente, verdadeiramente, queria fazer. Nunca senti que isso pudesse ser um problema.

MOYERS: Como podemos nós, que somos pais, ajudar nossos filhos a reconhecer a sua bem aventurança?

CAMPBELL: Você precisa conhecer seu filho e estar sempre muito atento a ele. Você pode ajudar. Quando ensinava no Sarah Lawrence, eu tinha uma entrevista individual com cada um dos meus alunos, pelo menos uma vez a cada quinze dias, de cerca de meia hora. Pois bem, ao conversar sobre as suas leituras obrigatórias, quando você toca em alguma coisa que realmente desperta a reação do aluno, você pode ver que os seus olhos se abrem e a postura física muda. Uma possibilidade de vida se abriu ali. Tudo o que você pode dizer a você mesmo é: “Espero que essa criança se apegue a isso”. Eles talvez consigam, talvez não, mas, quando conseguem, encontram a vida exatamente ali, na sala, ao seu lado.

MOYERS: E não é preciso ser poeta para chegar a isso.

CAMPBELL: Poetas são simplesmente aqueles que adotaram, como profissão e como estilo de vida, o estarem em contato com a própria bem aventurança. A maioria das pessoas se preocupa com outras coisas. Envolvem se em atividades econômicas e políticas ou se deixam engajar numa guerra que não é aquela em que estavam interessadas; nessas circunstâncias, é muito difícil manter se fiel ao propósito essencial. Trata se de uma técnica que cada um precisa desenvolver por sua própria conta. Mas muitas pessoas que vi vem naquele âmbito de interesses que podem ser chamados de triviais possuem a capacidade, que apenas aguarda ser despertada, de progredirem na direção de um âmbito mais elevado. Eu sei disso. Vi acontecer com muitos estudantes. Quando ensinava numa escola preparatória, para meninos, eu gostava de conversar com os que cogitavam sobre a carreira que pretendiam seguir. Um garoto se aproximava e perguntava: “Você acha que eu posso fazer isto? Você acha que eu posso fazer aquilo? Você acha que eu posso ser escritor?”
“Ah”, eu dizia, “não sei. Você é capaz de suportar dez anos de frustração, ninguém prestando atenção a você, ou você acha que vai escrever um best seller logo na primeira tentativa? Se você tem garra para perseverar no que realmente quer, não importa o que aconteça, então vá em frente.”
Então aparecia o papai e dizia: “Não, você deve estudar Direito, porque oferece muito mais perspectiva financeira, você sabe”. Bem, isso é a borda da roda, não o eixo; não é perseguir a bem aventurança. Você pretende se dedicar à fortuna ou à bem aventurança? Voltei da Europa, como estudante, em 1929, exatamente três semanas antes da quebra da Bolsa de Nova Iorque, de modo que fiquei desempregado por cinco anos. Simplesmente não havia emprego. Para mim, foi um período esplêndido.

MOYERS: Esplêndido? O auge da Depressão? O que havia de maravilhoso nisso?

CAMPBELL: Eu não me sentia pobre, apenas sabia que não tinha dinheiro. As pessoas eram muito boas umas com as outras, naquele tempo. Por exemplo, descobri Frobenius, que de repente me entusiasmou, e eu quis ler tudo o que ele tinha escrito. Então simplesmente fiz a encomenda a uma livraria que tinha conhecido, em Nova Iorque, e eles me enviaram os livros, dizendo que não precisaria pagar, até conseguir um emprego – o que aconteceu quatro anos depois.
Havia um velhinho maravilhoso, em Woodstock, que tinha uma propriedade com uns quartinhos que ele alugava por vinte dólares ao ano, pouco mais, pouco menos, a qualquer jovem que, na opinião dele, tivesse algum futuro nas artes. Não havia água corrente, apenas aqui e ali um poço e uma bomba. Ele dizia que não mandava instalar água corrente porque não gostava do tipo de gente que isso atraía. Foi lá que eu realizei a maior parte das minhas leituras básicas. Foi esplêndido. Eu estava no encalço da minha bem aventurança.
Bem, eu cheguei a esta idéia de bem aventurança porque em sânscrito, a grande linguagem espiritual do mundo, há três termos que representam a margem, o trampolim para o oceano da transcendência: Sat, Chit, Ananda. A palavra Sat significa “ser”; Chit significa “consciência”; Ananda significa “bem aventurança” ou “enlevo”. Pensei: “Não sei se minha consciência é propriamente consciência ou não; não sei se o que entendo pelo meu ser é o meu próprio ser ou não; mas sei onde está o meu enlevo. Então, vou apegar-me ao meu enlevo, e isso me trará tanto a minha consciência como o meu ser”.
Creio que funcionou.

MOYERS: Será que chegamos a saber a verdade? Será que chegamos a encontrá-la?

CAMPBELL: Cada um possui a sua própria profundidade, a sua própria experiência, e alguma convicção quanto a estar em contato com sua própria sat chit ananda, seu próprio ser, através da consciência e da bem aventurança. Os religiosos dizem que não chegamos a experimentar verdadeiramente a bem aventurança antes de morrermos e irmos para o céu. Mas eu acredito em atingir o máximo possível dessa experiência enquanto estamos vivos.

MOYERS: A bem aventurança é agora.

CAMPBELL: No céu, você terá um enlevo tão maravilhoso contemplando Deus que nem terá condições de se dedicar à sua própria experiência. O céu não é o lugar para se ter essa experiência – o lugar para ela é aqui.

MOYERS: Você já teve a sensação, como eu tenho às vezes, ao perseguir a sua bem aventurança, de estar sendo ajudado por mãos invisíveis?

CAMPBELL: O tempo todo. É milagroso. Tenho até mesmo uma superstição, que se desenvolveu em mim como resultado dessas mãos invisíveis agindo o tempo todo, a superstição, por exemplo, de que, pondo se no encalço da sua bem aventurança, você se coloca numa espécie de trilha que esteve aí o tempo todo, à sua espera, e a vida que você tem que viver é essa mesma que você está vivendo. Quando consegue ver isso, você começa a encontrar pessoas que estão no campo da sua bem aventurança, e elas abrem as portas para você. Eu costumo dizer: Persiga a sua bem-aventurança e não tenha medo, que as portas se abrirão, lá onde você não sabia que havia portas.

MOYERS: Você já sentiu simpatia pelo homem que não dispõe desse tipo de apoio invisível?

CAMPBELL: Quem não tem esse tipo de apoio? Bem, esse é o tipo que evoca compaixão, o pobre coitado. Vê-lo tropeçando, desajeitado, quando todas as águas da vida estão exatamente ali, ao alcance da mão, realmente desperta piedade.

MOYERS: As águas da vida eterna estão exatamente ali? Onde?

CAMPBELL: Onde quer que você esteja, se estiver no encalço da sua bemaventurança, você estará desfrutando aquele frescor, aquela vida intensa dentro de você, o tempo todo.

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